Melhorar a imagem da mulher árabe nos media e apoiar as que vivem na diáspora foram duas iniciativas lançadas pela 'Mãe da Nação' durante a II Conferência da Organização das Mulheres Árabes. Durante três dias, em Abu Dhabi, foram ouvidas denúncias e várias críticas, mas também se notou a disposição para valorizar a acção feminina
"Enquanto houver um sopro de vida no meu corpo, continuarei a lutar para concretizar o meu sonho: que todos, no mundo árabe, sejam capazes de ler e escrever." Assinada pela xeque Fatima bint Mubarak, a frase - inscrita num cartaz colocado no hall do Emirates Palace, em Abu Dhabi - era uma espécie de boas vindas, e mote, aos participantes na conferência sobre a Mulher no conceito da Segurança Humana.
Durante três dias, no ambiente climatizado do hotel de sete estrelas da capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU), centenas de académicos, intelectuais, activistas de direitos humanos, diplomatas - árabes e ocidentais, homens e mulheres - analisaram a situação e o papel da mulher na sociedade árabe, as dificuldades com que se confronta e os esforços que desenvolve para se afirmar.
Denúncias de situações e exigências para que sejam alteradas constaram também dos seis painéis que debateram temas tão amplos como a saúde, cultura, clima, conflitos armados, segurança, defesa e desemprego. Isto sem esquecer que a tradição é algo que não pode ser escamoteado.
Por exemplo, várias foram as vozes que se insurgiram com o facto de haver países árabes que gastam mais dinheiro em armas e com o exército do que com a educação e a saúde. Uma mulher, a quem os cidadãos do jovem país chamam de "Mãe da Nação" - Fatima Bint Mubarak, a viúva do xeque Zayad - , é a presidente da Organização das Mulheres Árabes e a força motriz da organização da conferência.
Com a abaia negra a cobrir-lhe o corpo, o véu a tapar-lhe os cabelos e a máscara cinzento-prateado de beduína a iludir-lhe o rosto, a xeque Fatima bint Mubarak, que presidiu à abertura e encerramento da reunião, era bem a imagem de quem respeita a tradição mas nem por isso deixa de lutar pela libertação e afirmação da mulher na sociedade.
Graças à acção da "Mãe da Nação" e do príncipe herdeiro, "90% das mulheres" do seu país sabem ler e escrever, como revelaria Nedal Mohamed al Tenaiji, uma das organizadoras da conferência e membro do Conselho Nacional, e são ainda mulheres 75% dos estudantes matriculados nas universidades do país. A educação feminina, que a responsável dos emirados defende de forma tão determinada, é uma exigência incontornável: uma mulher "educada e informada" pode melhor defender-se da violência social e familiar, sabe os direitos que tem e a forma de os fazer valer, pode desempenhar a profissão que mais deseja. E, ao conseguir a sua segurança, acaba por contribuir para a segurança humana, conceito lançado pela ONU em 2000 mas que é cego quanto a género.
Curiosamente, a voz mais crítica da tradição foi a de um homem. "Precisamos de marginalizar definições religiosas ultra-conservadoras do papel da mulher, reinterpretar textos religiosos para que não tenhamos fatwas [decreto religioso] ridículas", declarou Bahgar Korani, presidente do comité científico da conferência e professor de relações internacionais na universidade do Cairo, defendendo a educação da mulher mas também o seu acesso a todas as profissões.|
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